Existirá alguém com poder económico que não saiba que fugir aos impostos em
Portugal compensa? Duvido. Sabem, à partida, que os seus ganhos estão
assegurados a não ser que tenham alguma zanga pessoal com alguém das finanças
ou do mundo da política. Se há coisa lucrativa neste país é não cumprir as
regras. Mas atenção. É importante referir que só pode violar as normas quem
está a determinado nível. Afinal de contas não se quer um sistema anárquico,
mas apenas um que dê tratamento preferencial às pessoas “certas”.
Terminou agora mais uma fase do regime excepcional de regularização tributária sendo que o Secretário de Estado para os assuntos fiscais ainda tem
o desplante de afirmar (como se estivesse a marcar qualquer posição ética) que “não
está previsto mas nenhum programa de regularização tributária nesta legislatura”.
Um já é demais! Se as pessoas e empresas que fogem ao fisco sabem à partida que
terão uma hipótese de regularizar os seus ganhos indevidos porque haveriam de
pagar os seus impostos quando os outros pagam? Seria irracional de um ponto de
vista de ganhos e perdas – que é o único que as pessoas neste momento entendem.
Isto é uma redução imoral de impostos para os privilegiados!
Cansa-me ver sempre as mesmas coisas. Os mesmos esquemas. Apadrinhados
pelas mesmas pessoas e instituições. Com os mesmos beneficiários. E com um
público tão embrutecido como sempre – infelizmente é preciso admitir que somos
um país de camponeses que estudaram um pouco, vieram para a cidade mas que não ganharam
qualquer cultura. Esta é a sábia opinião pública, tão preocupada quando o vizinho
ganha mais 50 euros (só pode ser sinal de injustiça) mas, tão apática e medrosa
quando é preciso impor alguma coisa aos que realmente detêm poder que tem a arrogância de afirmar que outros países é que são estranhos enquanto nós seremos justos e racionais.