sábado, 11 de agosto de 2012

Impostos e Opinião Pública


Existirá alguém com poder económico que não saiba que fugir aos impostos em Portugal compensa? Duvido. Sabem, à partida, que os seus ganhos estão assegurados a não ser que tenham alguma zanga pessoal com alguém das finanças ou do mundo da política. Se há coisa lucrativa neste país é não cumprir as regras. Mas atenção. É importante referir que só pode violar as normas quem está a determinado nível. Afinal de contas não se quer um sistema anárquico, mas apenas um que dê tratamento preferencial às pessoas “certas”.


Terminou agora mais uma fase do regime excepcional de regularização tributária sendo que o Secretário de Estado para os assuntos fiscais ainda tem o desplante de afirmar (como se estivesse a marcar qualquer posição ética) que “não está previsto mas nenhum programa de regularização tributária nesta legislatura”. Um já é demais! Se as pessoas e empresas que fogem ao fisco sabem à partida que terão uma hipótese de regularizar os seus ganhos indevidos porque haveriam de pagar os seus impostos quando os outros pagam? Seria irracional de um ponto de vista de ganhos e perdas – que é o único que as pessoas neste momento entendem. Isto é uma redução imoral de impostos para os privilegiados!


Cansa-me ver sempre as mesmas coisas. Os mesmos esquemas. Apadrinhados pelas mesmas pessoas e instituições. Com os mesmos beneficiários. E com um público tão embrutecido como sempre – infelizmente é preciso admitir que somos um país de camponeses que estudaram um pouco, vieram para a cidade mas que não ganharam qualquer cultura. Esta é a sábia opinião pública, tão preocupada quando o vizinho ganha mais 50 euros (só pode ser sinal de injustiça) mas, tão apática e medrosa quando é preciso impor alguma coisa aos que realmente detêm poder que tem a arrogância de afirmar que outros países é que são estranhos enquanto nós seremos justos e racionais.  

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Estatuetas interessantes


Porque nem só de más notícias se faz o mundo temos hoje a interessante descoberta de algumas estatuetas de marfim com mais de 4500 anos no Alentejo, região de Reguengos de Monsaraz. Num país que valoriza pouco a sua história é sempre bom saber que alguém continua a investigar o nosso passado – em boa verdade até valorizamos um pouco a nossa história mas vivemos completamente à sombra dos mitos historiográficos do Estado Novo o que é limitativo. São peças que revelam alguma técnica e algum cuidado o que pode indicar uma civilização algo sofisticada. Pensa-se que o local teria algum significado religioso para os antigos (o que não é de estranhar), podendo estar ligado ao culto dos mortos.


O “problema” deste tipo de artefactos (como aliás todos os que nos chegam de épocas sem contexto escrito) é a interpretação. Apesar de se supor que a zona estaria ligada à cremação dos mortos e ao culto dos antepassados não se sabe o que representam concretamente. Homens? Deuses? Espíritos? Será com certeza interessante, daqui a algum tempo, poder ler o que os especialistas pensam sobre os achados. Estou bastante curioso para descobrir o que poderemos inferir em termos de organização social ou práticas religiosas/mágicas através destas descobertas.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Brincar com o fogo


Temos a prova que os povos aprendem muito (muito) lentamente na atitude que os “parceiros” europeus estão a ter para com a Grécia. Há meses que andam a lançar a hipótese da saída da Grécia da área euro para testar como reagiram os “mercados” e a opinião pública internacional. Para passados meses ainda estarmos nisto é fácil perceber qual a resposta universal a essa possibilidade.

Unidos?

 Não estou certo do que será mais chocante. A uniformidade de pensamento económico que estamos a ver. A falta de solidariedade dos vários países europeus (é a prova que politicamente a Europa é uma farsa. Quando são precisos os tais aliados eles desaparecem). Ou a falta de percepção dos líderes europeus que ainda não parecem ter integrado psicologicamente que, muito provavelmente, o futuro da moeda única e de todo o processo europeu está ligado ao destino de países como a Grécia. Ou nos erguemos todos de novo ou então o que sobrar não será a “Europa”. Será quanto muito uma área económica com atitudes predatórias para com todos os seus vizinhos. 

domingo, 5 de agosto de 2012

Por falar em Fundações


Uma das que é considerada como “útil” vai também publicar um estudo sobre classes sociais e mobilidade social. Pelo pequeno texto no Público já temos mais ou menos ideia do teor da coisa. Essencialmente explicar como estamos melhor que há duas ou três gerações. É um serviço (não à nação) que tem que ser prestado, é preciso esquecer tudo o que está a ser perdido e criar um ponto de comparação negativo o suficiente para parecer que evoluímos.

Todos os Homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos...

O próprio artigo de jornal não é muito recomendável já que ao afirmar que a mobilidade social depende essencialmente da educação esconde outras coisas bem mais importantes no caso da cultura portuguesa. Em primeiro lugar o facto de quem ascende ter um curso superior não cria um laço de obrigatoriedade inverso, ou seja, não significa que tirar um curso leve necessariamente a qualquer tipo de ascensão social. E bastará ter um pouco de contacto com a realidade para perceber que dada a cultura de trabalho que está a ser implantada a indistinção salarial para funções completamente diferentes será cada vez a norma. Em parte será a tradicional visão de curto prazo do empresário português, subqualificado e sem responsabilidade. E em parte será também uma boa forma de estabilizar de vez as barreiras sociais ao fazer ver aos filhos da classe média que estudar não lhes trará nada.


 O outro factor que está a ser ignorado (e que é sempre ignorado por quem tem voz nesta sociedade) é a chamada “cunha”. É o pão nosso de cada dia e está mais que provado que a maioria dos portugueses é bastante hipócrita pois condena quando os poderosos o usam mas à primeira oportunidade que tem usa-a também. É uma prática completamente transversal à sociedade apesar de nos últimos anos se ter tornado mais complicada para quem não está no topo das pirâmides hierárquicas das organizações (sinal do tal fortalecimento das barreiras sociais). Dito isto penso que estará claro que não temos muito a esperar de órgãos de serviço às ideologias que criaram todos estas situações. Venha a propaganda. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Os lobos “debatem” com as ovelhas


Para decidir qual deles terá direito ao maior pedaço de carne. Só podemos concluir isso do “estudo” encomendado pelo Ministério das Finanças sobre as fundações. Não é totalmente honesto falar de estudos desta forma porque o actual governo possui uma inclinação ideológica muita clara e está a tentar arranjar mecanismos para condicionar o debate público no futuro. Ao purgar as instituições que não são ideologicamente concordantes o suficiente com o seu modelo de sociedade. Estão a assegurar que nas próximas décadas não existirá qualquer opinião dissonante.


Organizações dependentes e ideologicamente comprometidas realizarão estudos igualmente comprometidos, irão custear estudos cujas conclusões são conhecidas à partida e financiar bolsas de “estudo” sem qualquer credibilidade e que não terão outra utilidade que não seja criar um vasto corpo de literatura (de fraca qualidade) que grite histericamente o seu apoio pelo modelo social e político que está a ser proposto. É francamente desonesto para dizer o mínimo. Isto irá sem dúvida seguir em frente (tal como a onda injustificada de privatizações ruinosas) quanto mais não seja porque o cidadão português é completamente míope. Agitam-lhe um slogan tonto de cortes em “despesistas” e saltam logo como feras famintas que são, ansiosos por sangue. Por contar fica a história menos clara dos critérios de selecção do governo, as amizades e simpatias pessoais e ideológicas e no fim, ironicamente, as fundações que mais dão nas vistas pela sua “generosidade” sairão incólumes. O seu consentimento político há muito que está assegurado. 

domingo, 29 de julho de 2012

A imprensa online

Se há algo que devemos fazer quando acordamos é olhar para as notícias, nem que seja apenas para ter a certeza que o mundo não acabou. A forma mais fácil de o fazer é online, já que podemos seleccionar o tema que nos interessa quando queremos sem ter que perder tempo a ouvir “analistas” que, em 95% dos casos, não têm rigorosamente nada a acrescentar. O único problema, na minha perspectiva, são mesmo os comentadores. Grande parte do que é escrito nas publicações online portuguesas é simplesmente vil para além de qualquer descrição. O nível é abismal. Entre a ignorância e o ordinário parece que estamos numa execução pública do século XVI. Claro que isto reflecte a falta de qualidade da opinião pública no nosso país. Ninguém se dá ao trabalho de investigar nada antes de falar. E muito menos aceita ser corrigido, mesmo quando está consciente que não tem bases para as afirmações, escabrosas, que faz. É caso para dizer que a ignorância faz o atrevimento.


Claro que não sou o primeiro a notar neste padrão de comportamento. Muitas vozes, especialmente de meios mais “mainstream”, já criticaram estes comportamentos algo animalescos de certos comentadores que frequentam os sites noticiosos portugueses. A sua conclusão assenta essencialmente sobre um único factor, o anonimato. E aqui é que as coisas ficam mais feias. Esta análise da situação é muito conveniente para quem pertence ao “meio noticioso” porque apaga décadas de deficiências por parte de certas classes e grupos (as pessoas não reclamam do mau jornalismo ou da falta de civismo porque muitas vezes nunca viram exemplos de qualquer uma das coisas) ao mesmo tempo que visa atacar um anonimato que sabem ser necessário num país como o nosso, em que vinganças pessoais são o habitual, especialmente quando existem disparidades de poder.



A falta de educação e conhecimento desempenham um papel importante e o anonimato pode abrir a porta para alguns abusos (tal como abre para a denúncia de injustiças e para o comentário honesto) mas o factor central desta selva electrónica é que quase todos os comentadores prevaricadores estão a defender interesses concretos e pessoais. Não estamos perante opiniões “em bruto” mas sim perante defesas organizadas de alguns poderes e instituições por pessoas perfeitamente conscientes do estrago que causam (quem domina particularmente bem esta técnica são os pequenos grupos da extrema-direita). Neste caso parece óbvio que a solução não estará num abandono das caixas de comentários às feras ou da proibição do anonimato como alguns propõe mas sim uma fiscalização do nível de civismo de quem comenta. Se isto não é feito será caso para perguntar qual é o tipo de opinião pública que se quer fomentar em Portugal. Queremos um modelo de debate civilizado e de partilha? Ou pelo contrário um de gritos histéricos irracionais que não pode ter qualquer conclusão útil?