domingo, 29 de julho de 2012

A imprensa online

Se há algo que devemos fazer quando acordamos é olhar para as notícias, nem que seja apenas para ter a certeza que o mundo não acabou. A forma mais fácil de o fazer é online, já que podemos seleccionar o tema que nos interessa quando queremos sem ter que perder tempo a ouvir “analistas” que, em 95% dos casos, não têm rigorosamente nada a acrescentar. O único problema, na minha perspectiva, são mesmo os comentadores. Grande parte do que é escrito nas publicações online portuguesas é simplesmente vil para além de qualquer descrição. O nível é abismal. Entre a ignorância e o ordinário parece que estamos numa execução pública do século XVI. Claro que isto reflecte a falta de qualidade da opinião pública no nosso país. Ninguém se dá ao trabalho de investigar nada antes de falar. E muito menos aceita ser corrigido, mesmo quando está consciente que não tem bases para as afirmações, escabrosas, que faz. É caso para dizer que a ignorância faz o atrevimento.


Claro que não sou o primeiro a notar neste padrão de comportamento. Muitas vozes, especialmente de meios mais “mainstream”, já criticaram estes comportamentos algo animalescos de certos comentadores que frequentam os sites noticiosos portugueses. A sua conclusão assenta essencialmente sobre um único factor, o anonimato. E aqui é que as coisas ficam mais feias. Esta análise da situação é muito conveniente para quem pertence ao “meio noticioso” porque apaga décadas de deficiências por parte de certas classes e grupos (as pessoas não reclamam do mau jornalismo ou da falta de civismo porque muitas vezes nunca viram exemplos de qualquer uma das coisas) ao mesmo tempo que visa atacar um anonimato que sabem ser necessário num país como o nosso, em que vinganças pessoais são o habitual, especialmente quando existem disparidades de poder.



A falta de educação e conhecimento desempenham um papel importante e o anonimato pode abrir a porta para alguns abusos (tal como abre para a denúncia de injustiças e para o comentário honesto) mas o factor central desta selva electrónica é que quase todos os comentadores prevaricadores estão a defender interesses concretos e pessoais. Não estamos perante opiniões “em bruto” mas sim perante defesas organizadas de alguns poderes e instituições por pessoas perfeitamente conscientes do estrago que causam (quem domina particularmente bem esta técnica são os pequenos grupos da extrema-direita). Neste caso parece óbvio que a solução não estará num abandono das caixas de comentários às feras ou da proibição do anonimato como alguns propõe mas sim uma fiscalização do nível de civismo de quem comenta. Se isto não é feito será caso para perguntar qual é o tipo de opinião pública que se quer fomentar em Portugal. Queremos um modelo de debate civilizado e de partilha? Ou pelo contrário um de gritos histéricos irracionais que não pode ter qualquer conclusão útil?